Ela estava pensando na vida em um restaurante, após uma sessão de cinema... Coisa que estava fazendo com com tanta frequencia naqueles dias, que estava constrangedor quando a chamavam para ver um filme e ela respondia: já vi...
O garçon passou por ela pela segunda vez para perguntar o que gostaria de comer ou beber, sem que conseguisse alcançar os pensamentos da moça, tão absorta que estava em seus devaneios.
"Garçon", por favor, o cardápio... Ao que o garçon indicou o que já havia colocado em sua mesa. Em um arfar sibiloso, ela abruiu e escolheu rapidamente... "E uma caipirinha de saquê, por favor". O agarçon assentiu enquanto anotava o pedido feito.
O restaurante ficava na cobertura daquele prédio de 19 andares. A vista privilegiada a noite, mostrava uma paisagem urbana reluzente de prédios e faróis. Olhou ao redor. Parecia que o restaurante estava completamente vazio. Talvez duas ou três mesas ocupadas.
"Alguma fruta de preferência, Senh...". "Kiwi, por favor". O garçcon afastou-se ligeiramente em direção ao balcão para fazer o pedido. Ela o acompanhou de soslaio, mas seus olhos se detiveram em um homem parado à porta, que observava o interior do do restaurante, como se estivesse buscando algum lugar confortável para sentar-se. Estava só.
O mesmo garçon que a atendera foi ao encontro do homem parado à porta. E após alguns segundos de conversa, o encaminhou a uma mesa reservada do outro lado do restaurante. uma mesa bem próxima à sacado do prédio, do lado de fora.
Ela se perguntou quem gostaria de ficar com uma mesa naquele local em uma noite tão fria. Mas logo percebeu que o homem estava trajado para vencer qualquer temperatura. Olhou atentamente. Termo e calça risca de giz. Camisa branca clássica. Gravata Skinny. Cardigã colorido. Sapato preto bico fino brilhante... Sobretudo preto.
Ao sentar-se o homem abriu habilmente todos os botoes se seu terno. e o sobretudo que já estava em sua mão repousou sobre o encosto da sua cadeira. El anunca tinha visto tanta destreza em etiqueta como esta vendo naquele momento.
"Senhora! O saquê, com gelo ou s...". "Sem, quero sem gelo". Fitou os olhos do garçon. No movimento do graçon, o homem olhou em sua direção. Involuntariamente, ela o olhou sobre o próprio nariz e mexeu levemente no cabelo. O homemcoçou a sombrancelha sem desviar seus olhos de sua direção... E chamou o garçon. Um pigarro veio em sua garganta e o pensamento de que talvez estivesse parecido leviana com aquele movimento... "Mas eu nem pensei em fazer aquilo, quando vi já tinha feito". Pensou quase em som alto. Quase em desespero.
Há algum tempo já não se via com qualquer atrativo. Seu casamento havia terminado há poucos meses e se olhar no espelho era um desgaste nos últimos dias. Assim como sua silhueta tudo a estava incomodando: a cor da casa, os móveis. Quando não estava no cimena, enfurnava-se no escritório ou debaixo das cobertas. Mais nos escritório que nas cobertas.
Pretendia a cada domingo dar um salto em direção a mudanças, mas ao acordar na segunda-feira a rotina de solidão a arrebatava novamente e prosseguia em seu ritmo desacelerado e sem perspectivas. Sabia que estava na hora de trocar a pele da vitimização, da auto-compaixão, mas o exercício era pesado naqueles momentos.
Assustou-se quando o garçon chegou com seu saquê, colocando levemente a mão sobreo colo. “Desculpe!”. Sorriu para o garçon, que deixava o copo sobre a mesa. Olhou detiamente sua bebida, enquanto lançava um olhar despretencioso em direção ao homem. Ele lia atenciosamente um livro de capa verlhelha e cintilante. “O que será que ele pediu?”. Em resposta, o garçcon passou com uma bandeja com uma garrafa de vinho e uma taça. O homem foi servido e degustou o vinho. Não aprovou. Delicadamente sussurrou algo ao garçon que apressadamente trouxe-lhe outra garrafa. Ao degustar mais uma vez, sorriu e assentiu com a cabeça. O graçon com semblante aliviado.
Percebia agora com mais detalhes o homem que chamava sua atenção. Provavelmente tinha 1,75 de altura. Branco. Cabelhos grilhalhos. Mas não aparentava mais que 40 anos. Corte moderno. Não era do tipo magro nem gordo... Nem do tipo que frequenta academias. Um tipo normal e charmoso.
Ele passou a mão nos cabelos, desarrumando um pouco o penteado. Afrouxou a gravata e desabou desleixadamente na cadeira... “Um charme!”. “Um homem clássico e despojado no final da noite”. “Um homem que tem mulher e filhos que o aguardam na sua casa arrumadinha e com uma vida perfeitinha”. Definiu o homem e sua vida e sem dar-se conta, soltou uma risadinha maliciosa. Talvez o efeito etílico do saquê e afrodisíaco do kiwi.
Seu prato chegou quase no mesmo momento que o pedido feito pelo belo homem que estava a poucos metros à sua frente. Curiosamente, ela levantou a cabeça para ver o que ele comeria, mas o desnível do piso em mármore Bochittino a impedia de ver com detalhes.
Lembrou-se de seu prato a sua frente: peito de pato defumado Gourmane com creme de tomate e coentro, batatas gaufrette e salada de endividas com Noz. Ela não tinha o hábito de comer comidas tão refinadas, mas junto com a depressão vinha a compusão por roupas e pratos caros. Vagarosamente, saboreou a comida que havia pedido, entrecortando o movimento dos talheres com olhares furtivos para o homem, que também jantava sozinho.
Um golpe de vento frio cortou o ar vindo da porta da sacada. Um jarro de plantas permanentes caiu próximo de sua mesa e o homem levantou os olhos em sua direção com ares de preocupação. Ao perceber o ocorrido levantou-se ligeiramente de sua mesa para dar-lhe atenção.
“Tudo bem. Obrigada”. “Não foi nada, mesmo”. Obrigada, obrigada”. O homem insistiu, perguntando se não havia algum vidro, pedindo que ela verificasse. Ela ficou de pé, um pouco constrangida e saciduiu a roupa com um sorriso consternado. “Viu? Estou sã e salva”. “Não se preocupe. Não aconteceu nada”. Não está frio lá fora?”. As palavras escapoliram de sua boca, que cerrou-se imediatamente apertando os lábios. “O vento está tão frio, e há tantas outras mesas...”. Emendou.
O homem sorriu e meneou a cabeça atendendo ao seu pedido. “Se importa que eu lhe faça companhia? De certo que já estamos quase terminando nosso jantar, m...”. “Claro! Qeuro dizer, não. Não me importo”. Com a classe que ela já esperava o homem solicitou ao garçon que o trocasse de mesa. E dirigiu-se a ela. “Sou Henrique...”. E seus olhos nos dela aguardavam que ela se apresentasse a ele... “Oh! Desculpe! Heloísa!”. “ Sente-se”.
Realmente não havia muito o que ainda comer de ambos os pratos. Conversaram pausadamente sobre amenidades. Ele tomando seu vinho, ela degustando mais do que lentamente seu saquê. “uma sobremesa? Por minha conta!”. “Não, obrigada! Realmente não tenho mais apetite para mais nada”. Nesse momento ela olhou para sua mão, que segurava o cardápio de sobremesas. Mãos fortes. Nem lisas nem com muitos pelos. Unhas bem cortadas. “Não tem aliança”. Quase Solfejou. “Nem marca de aliança”. Sorriu. “Acho que talvez algo com chocolate... Quem sabe...”. Manteve o sorriso congelado.
Ela falou um pouco sobre seu trabalho e descobriu que ele era do mesmo ramo, só que tinha atividades no exterior e estava expatriado há 5 anos. Estava no Brasil para um Seminário da Empresa. Terminaram e quando já não havia motivos para permanecerem no restaurante ele a perguntou se morava perto. Um frio percorreu-lhe a espinha. Passou a língua no canto superior dos labios, estreitando os olhos. “Mais uma vez, não”. Ela pensou desaprovando seu gesto incauculado. Ele sorriu. “Desculpe. Não quis parecer indelicado.” “Só queria acomanhá-la até a parte de fora. Você está sem casaco e a temperatura caiu bastante”. “Não... Nada”. “Pegarei um taxi aqui perto. Não se preocupe”. “Sou uma tola mesmo”. Prosseguiu em pensamento.
“Permite?”. Indagou cerimoniosamente o Henrique, estendendo-lhe o braço. “Obrigada!”. Agradeceu a gentileza que nunca tinha recebido, reribuindo com o seu braço contornando o dele. Piscou ligeiramente os olhos. “Vamos?”. Ela disse.
Seguiram lentamente pelo hall do restaurante e tomaram o elevador panorâmico, olhando as luzes da cidade que acendiam e apagagam num cintilar vibrante... Como aquele jantar inusitado. “Eu fico aqui”. Disse-lhe ele. “Eu seguirei um pouco a pé”. “Gosto do frio passando no meu rosto”. Minha casa é aqui perto”. Eu a acompanharia, mas tenho que estar de pé bem cedo. “Você não gost...”. “Obrigada pela Companhia.” Interrompeu ela. “ Foi muito agradável”. Ele sorriu timidamente, como se estivesse constrangido por ter sugeri algo não condizente com a Dama a sua frente. Apertaram as mãos.
Ele tomou o táxi e ela seguiu em frente. Alguns passos depois virou-se. O corpo completamente arrependido. Não viu mais o carro. Correu com os saltos altos em direção à esquina, mas somente as lanternas trazeiras e vermelhas do carro foram vistas ao longe. Lembrou-se rapidamente do livro de capa vermelha, que por algum motivo ficara em sua mão. Ergueu-o sem jeito na tentativa de chamar a atenção do táxi. Olhou para o livro e abriu-o em busca de alguma referência. Nada,.. Girou sobre os calcanhares hesitosa, ainda olhando o carro que diminuia com a distância. E retomou sua caminhada solitária em direção a sua casa.
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