Ela estava sentada sobre o para-peito da varanda, os olhos vagos observavam as crianças que brincavam do outro lado da calçada. Enrolava lenta e despretenciosamente a barra do vestido florido que ganhara de aniversário no ano anterior. Não sabia exatamente dizer se estava triste ou feliz. Só esperava... Esperava. Há muito esse era seu mundo: esperar.
Todo final de tarde, antes do sol esmaecer no horizonte, sentava-se no mesmo beiral e olhava o brincar dos meninos sem que houvesse algum motivo específico nessa atitude. Acabara de fazer vinte e oito anos. Ainda muitas perguntas... Muitas respostas incompletas. Os olhos distantes, as respiração que intercalava ansiedade e desânimo num movimento ora frenético, ora tão lento.
Havia algum tempo sua rotina se resumia em fazer as atividades domésticas e aguardar o cair da noite. Sem qualquer tipo de evento que modificasse o curso das cosias. Não havia urgência nem tranquilidade. Ou ambos... Em anulação. Decidira que o melhor movimento seria ficar parada, por mais que essa decisão trouxesse um desperdício evidente do tempo, que nunca parava para que tivesse tempo de decidir por qual caminho seguir.
Pousou a cabeça na mão esquerda, o braço sobre o joelho. Coçou o olhos com o polegar na tentativa de enxergar além do mundo que percebia ao seu redor. Nada. Pressionou os lábio fazendo uma linha reta mostrando as covinhas, agora mais fundas e menos atraentes. A linha ganhou um arco ao lembrar o quanto era elogiada pelas covinhas: “que covinhas lindas, essa menina tem! Nunca deixe de sorrir, minha querida. Você tem um sorriso que pode iluminar o mundo, se você quiser”, sempre dizia a avó quando vinha visitá-la... “Nem o mundo nem a mim mesma. Nem agora nem nunca”, surpreendeu-se pensando. E assustou-se.
Tempo também fazia que não lembra-se das conversas consigo mesma, sobre seu futuro ou seu passado. Não tinha consciência de alguma reflexão voluntária. Não havia registro. Franziu o cenho, os olhos buscando sem foco alguma lembrança. Nada. Abraçou as pernas ajeitando o vestido. Encostou o queixo nos joelhos e inclinou a cabeça. “Vou me esforçar para guardar as lembranças”, sorriu timida e rapidamente. Coçou a nuca. Ajeitou mais uma vez o vestido.
O moço que sempre passava naquele horáio despontou na esquina. E como habitualmente fazia, deu meia parada em frente ao portão e acenou gentilmente levantando o chapel... Ela virou-se. Meio marota, meio envergonhada. Desceu e, sem olhar para trás, fechou a porta. O moço seguiu seu caminho, os olhos baixos... Nada...
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Achei triste. triste p ela e p ele. não conseguir falar do amor que a gente sente deve ser muito dolorido msm.
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