Postagens por Assunto
- Crônica (9)
- Filmes que assisti... (2)
- Humores e momentos - RAPIDINHAS (14)
- Inconstante (2)
- Letra de música (23)
- Meus Pensamentos (26)
- Pérolas que ouço e leio (12)
- Poesia (7)
- Política (3)
- Sessão Descarrego (8)
sábado, 28 de maio de 2011
Tão Simples
Acordou assustada e sentiu gradativamente os sons chegarem aos ouvidos, e as formas e cores aos olhos. Virou-se de lado com o esforço de quem não tem forças sequer para imaginar. Viu no relógio do criado mudo: duas da madrugada.
Notou nesse momento que o sono que imagnara acontecido não fora mais do que horas insones. Os olhos cerrados. Encarcerada no desejo de que no momento seguinte a densidade da inconstância nublasse a paisagem da realidade.
Virou-se novamente e, buscando conforto para as costas apoiou o ante-braço na fronte. Vidrou os olhos, agora abertos, no teto até que arderam e lacrimejaram, findando a concentração.
Cada parte sua ansiava pelo embalo do sono. Não porque precisasse dormir. Não porque estivesse extremamente cansada. Mas porque precisava acordar. Ter um intervalo entre o que era atual e o que se seguiria.
A outra mão passeava os dedos no abdome. Massageava os músculos contraídos tentando dissolver os nódulos da apreensão. Respirou lentamente. Para dentro. Para fora. Exercício de relaxamento e suspiro controlado. Tremeu o peito.
Não havia estrelas no céu nem movimento nem ar. Engasgou sôfrega. Parou. Amassou o lençol dentro da mão quente e úmida e de um salto correu para a cozinha. Um chá... Acocorou-se no canto entre a geladeira e a porta. Segurando a xícara estalava as unhas forçando umas às outras. Não há ninguém por perto. Não há ninguém olhando. Mas sentiu uma vergonha alheia como se naquele momento estivesse sendo observada por si mesma do outro canto da cozinha.
Não veio. O sono não veio. Perambulou em volta da mesa sem completar qualquer pensamento e olhou para o computador. "Não". A geladeira. "Não". A rua. "Não, não". O computador. Entrou na rede forçando um bocejo. "Mentira". Não havia qualquer sinal de sono.
Instintivamente seus dedos digitaram o endereço, a senha. Percorreu novamente todas as mensagens trocadas guardadas em sua caixa de entrada. Releu cada palavra interpretando cada possível sentido oculto contido nelas. Trocas de mensagens coletivas. Mas ele escrevera seu nome algumas vezes. Trivialiddades apenas.
Os álbuns de fotos. Deteve-se na que melhor dava sentido ao momento insone. Mas ele não a via através do monitor. Não lhe sorria. A foto representava somente um estado de espírito passado. Ela não participara. Não causara o sorriso ou a situação. Não tirara a foto. "Porquê?" Revirou os olhos e riu da incoerência infantil desse pensamento. "Essa". "Essa não". "Essa está melhor". "Todas lindas". Mesmo as feias.
A almofada gasta do assento fez seu corpo reclamar a posição. Levou o laptop para a cama e deitou-se de bruços. Navegou, navegou. E diante de seus olhos ele lhe sorriu. Sim, era para ela dessa vez. E sentiu sua respiração tão próxima, tão quente. Seus braços enlaçaram sua cintura e os lábios dele espremeram os seus. "Sim". E por uma eternidade estavam juntos e por uma eternidade estariam. O sorriso da foto travado no rosto dele. A beleza imutável retratada na foto atravessou o tempo em que estiveram juntos naquela eternidade.
Acordou e esfregou os olhos. Não. Não havia nenhum corpo sob os lençóis senão o seu. Tateou. O laptop esta lá ao seu lado. Frio. A foto ainda lhe sorria. Bateria fraca. Ambas. "Bom dia..", respondeu para a foto. Tremulou os lábios na tentativa de conter um sorriso. Tímida. Entendeu.
Estava apaixonada.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário