Fechou a porta de casa. Mas não foi ela que a abriu. "vai deitar, vai. Tá frio aqui fora...". Uma frase curta. Os olhos claramente tristes, pensativos. Ela muda. O som do elevador anunciou sua chegava. Nenhuma pertença. Nenhuma sentença.
Tudo ocorreu em casa. Tudo regado a momentos de intensidade e entrega... E depois, não as luzes e o estardalhaço da mutidão enlouquecida pela escolha da playlist do DJ, mas sim o cansaço que levou ambos a um sono entremeado de beijos, afagos, cuidados, abraços - que apesar de simbólicos, genuínos e cheios de ternura, não traduziam, em essência, qualquer estágio de relacionamento. Nenhuma pertença. Nenhuma sentença.
Lembrou que o presente não fora dado, apesar de comprado com a intenção de demonstrar o afeto que surgia. Ela optou por não se expor. "Você é incrível, merece pessoa melhor que eu". Por não dar contretude à subjetividade da partida. E porque, também, não havia nada a requerer. Nenhuma pertença. Nenhuma sentença.
Sem motivos razoáveis para entristecer-se, ela entristeceu. "Não foi isso que eu disse. Você não percebeu que gosto de ficar com você?". O jogo era a dois e em seu momento de isolamento poderia ser dar ao luxo de demonstrar a si mesma o quanto havia se envolvido. Mas ainda assim era um jogo. E tavez por isso - por ser um jogo - ele não tenha esquecido de levar o objeto entregue na noite anterior como motivo para estar com ela. "É pra eu pegar com você amanhã"... E mesmo que não tenha tomado espaço. E mesmo que nãou houvesse sentido. Um espaço fora tomado, mas não pelo objeto. Nenhuma pertença. Menhuma sentença.
O som surdo do outro lado denunciou sua partida. Abriu a janela e o viu caminhar no sentido oposto ao de seus corações. "Vivo em busca do novo", lembrou das palavras ditas há algumas semanas. Permaneceu na janela observando o distanciamento. Todos os distanciamentos. Um caminhar lento, a silhueta da figura que, cada vez mais diminuta, talvez não mais retornasse. Nenhuma pertença. Nenhuma sentença.
Fechou a janela assim que o coletivo não deixou mais dúvida de que ele se fora. O sol nascente no horizonte anunciava um dia morno, seus feixes de luz atravessando a neblina remanescente da cidade. Deitou novamente no ninho. Nada em volta. Nada envolta. Nada crítica. Nada. Nenhuma pertença. Nenhuma sentença.
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